31 de dezembro de 2011.
Eu adoro Ano Novo. Eu sei, nada muda depois da meia noite, mas para mim, o Ano Novo sempre foi um sopro. Como abrir uma janela para entrada de ar fresco. Um respiro. A gente se enche de esperança, de ar, de gás. Na virada do ano em 2011 foi o contrário. Fiquei sem fôlego, sem ar, sem respiro, sem sopro.
Quem me conhece sabe que é quase impossível me deixar sem palavras. Eu não sou o tipo de pessoa que perde o rebolado, eu faço gracinha quando fico sem graça. No finalzinho dia 31 de dezembro, eu fiquei branca da cor do meu vestido.
Naquela noite, já tínhamos jantado, comido sobremesa e tudo mais. Faltavam 20 minutos para a meia noite e estávamos todos sentados na sala. O assunto tinha morrido e tinha uma tensão no ar. Eu achava que era ansiedade pela chegada do Ano Novo.
Ivete Sangalo cantava no Show da Virada e o Jared estava mais calado que criança cagada. Aí quando o Luan Santana apareceu na televisão, começou a passar pela minha cabeça que o Jared devia estar odiando aquilo tudo. Ele estava estranho demais. Devia estar morrendo de tédio.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele ia me pedir em casamento do jeitinho que o figurino manda, mas eu não parava para pensar em como ou quando seria. Era uma coisa que simplesmente não passava na minha cabeça, talvez porque outras milhões de coisas passassem.
O que eu não sabia é que dois dias antes, o Jared tinha intimado a minha irmã para uma missão quase impossível: pedir a minha mão em casamento para o meu pai. Acho que o meu pai nunca imaginou uma coisa dessas acontecendo. Nem eu, na verdade. Somos moderninhos.
Meu pai sente por nós um tipo de amor desapegado, onde o importante é a nossa felicidade. Se a gente está feliz, para ele, não importa o que ele sente, acha ou pensa. Acho que antes de ser pai e mãe, a gente ama um amor egoísta. Eles amam um amor solto, que a gente muitas vezes não entende a grandeza.
Eu só posso imaginar como foi a conversa. O Jared tinha um discurso traduzido em português, pelo meu amigo Chico, antes ainda de vir para o Brasil. O meu pai estava sentado na cozinha, quando a minha irmã disse que o Jared precisava falar com ele. Eu estava no banho, completamente desavisada de tudo.
O Jared começou a ler o discurso em português. O que deve ter sido meio caótico, porque a minha irmã, com os nervos à flor da pele, pegou o iPad da mão dele e leu para o meu pai, que olhava pro Jared e concordava com a cabeça. Finalmente, meu pai deu uma resposta verbal, coerente com o seu amor generoso: "Se é o que ela quer, se ela está feliz, ela é quem sabe." Eu quem sabia.
Aí minha mãe, que estava no trabalho, ficou sabendo do feito. A minha mãe é uma romântica irremediável, até quando ela se faz de durona. O Jared ganhou milhões de pontos com ela por ter falado com o pai. O único porém, é que ela não estava junto. Então, ela pediu para o Jared, através da minha irmã, que fizesse o pedido na frente deles, pois ela queria ver! Ao contrário de pais, mães se puxam.
Eu queria ter visto a cara do Jared quando foi intimado pela futura sogra a me pedir em casamento na frente da família toda. Ele achou que o pior já tinha passado com o consentimento do meu pai. Que nada!
De volta a sala da minha casa, agora 15 minutos antes da meia noite, o Jared me perguntou se eu sabia onde estava o relógio dele. Eu disse que estava no meu quarto e ele me pediu para ir buscar. O que eu achei muito estranho, mas me levantei e fui buscar porque afinal de contas ele já estava com cara de bunda.
Quando eu estava saindo do quarto com o relógio, dou de cara com ele no corredor. Contrariada, entreguei o relógio e perguntei o que ele tava fazendo. Ele disse que estava indo no banheiro. Voltei pra sala e minha mãe puxou assunto comigo. Eu estava em pé e descalça quando ele parou na frente na televisão e me chamou para perto dele. Faltavam 10 minutos para a meia noite. Eles todos olharam para mim e para minha expressão de "não estou entendendo." Até que eu entendi.
A minha irmã começou a filmar a cena. O Jared (ainda sem mala e usando uma camisa do meu pai) começou a falar sobre o quanto gostava de mim, o quanto eu fazia ele feliz e que queria passar o resto da vida comigo. E eu só conseguia pensar que eu estava sem sapato! Acreditem ou não, eu cheguei a dizer "OMG, should I put shoes for this?" [Devo colocar sapatos para isso?].
Não falei que faço gracinha quando fico sem graça? A única pessoa mais fora de órbita do que eu, era o meu irmão, Dudu, que também não sabia de nada. Como se não fosse o bastante, ele ficou num joelho só, tirou o anel de noivado do bolso e disse:
"Fabiana de Castro Caldas, você quer caser comigo?". Apesar do treino, na hora o casar saiu caser. Eu tinha entendido muito bem o que caser queria dizer. Em um impulso, tirei o anel da caixa e disse SIM, YES. As duas coisas.
Ele me abraçou e me levantou do chão, eles todos gritaram, bateram palmas e a minha mãe começou a chorar. Eu dizia para minha irmã parar de gravar. Totalmente sem rebolado. Eu não sabia nem que dia do ano era. Meia noite. Já era dia primeiro de janeiro de 2012.
Brindamos, nos abraçamos, tiramos fotos. Eu com cara de quem acabou de levar um caldo de uma onda. Uma onda muito maior do que eu pensava. Finalmente, coloquei os sapatos e fomos para o baile de Réveillon no clube da cidade. Naquela altura, a onda já tinha passado e eu já estava linda na areia. Mal via a hora de encontrar as minhas amigas na festa, mostrar o meu anel e dar pulinhos de alegria, que nem a gente vê nos filmes. Tomamos mais champagne e dançamos.
Feliz Ano Novo, noivos!