3 de janeiro de 2013.
O furacão Mielnik deixou a minha casa no dia 2 de janeiro de 2013. Eles foram para o aeroporto e eu fui terminar de arrumar as minhas malas. Abri a caixinha do correio e lá estava o meu horroroso Green Card. Chegou bem a tempo de ir escondido comigo para o Brasil.
Olhei para o Green Card e me lembrei da tamanha mentira que eu tinha contado para todo mundo. Eu disse para a minha família e amigos que a entrevista era dia 7 de janeiro. Eles não tinham ideia que eu já estava com o Green Card em mãos.
A minha vó era a única que sabia. Isso porque ela andou no hospital na semana anterior ao Natal e eu resolvi contar o segredo para ela se animar e fica boa logo. Ela foi uma cúmplice e tanto.
Chegou o dia 3 de janeiro e eu já estava com a adrenalina nas alturas. Como sempre, teve choro no aeroporto em Las Vegas. Eram só 25 dias, mas a gente não aprende. Já deve estar programado no nosso inconsciente.
O meu voo fazia uma conexão ridícula em Detroit, Michigan. O que não teria sido tão ridículo se a comissária de bordo tivesse conseguido abrir a porta da aeronave logo que aterrissamos. Ela demorou 45 minutos para abrir a porr* da porta, o que também não teria sido tão terrível se eu tivesse mais de uma hora entre um voo e outro.
Trocando em miúdos, chegamos em Michigan 6:45. O meu voo para o Brasil era às 7:45. A aeromoça infeliz só consegui abrir a porta do avião às 7:30, trinta minutos após o começo do embarque do meu voo para São Paulo. Vocês imaginem uma pessoa em cólicas, já claustrofóbica dentro do avião. Sai a Fabiana correndo aeroporto a fora, se despencando, jurando que nunca mais anda com um monte de bagagem de mão. Fui a última a embarcar e tive que passar pelo corredor da morte, sob os olhares críticos e analisadores de todos os passageiros já devidamente acomodados, mas pouco me importei.
O resto da viagem foi tranquilo, tirando a minha comum ânsia de vômitos logo que chego ao Brasil. Fico com os nervos a flor da pele, sempre. Em Porto Alegre, a ansiedade só aumenta e me dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Dessa vez, não tinha ninguém no aeroporto me esperando. Juro por Deus que a corrida de táxi entre o aeroporto e o apartamento da minha irmã demorou mais que o voo inteiro. Eu já não me aguentava mais.
Cheguei no prédio da Silvana e pedi para o porteiro não me anunciar, expliquei a situação e ele concordou. Eu nem sabia se ela estava em casa. Então, o porteiro, com uma sutileza e tanto, ligou para o apartamento dela e disse que era engano logo que ela atendeu. Subi no elevador com as minhas três malas gigantes. Coloquei as malas na frente da porta, apertei a campainha e me escondi que nem criança arteira.
Ela abriu a porta com a cara mais confusa do mundo e só caiu a ficha quando ela me viu no corredor e disse (com mais sutileza que o porteiro): que isssssssooooo? Sou eu, eu respondi. Ela me abraçou tanto que achei que ela não ia me largar nunca mais, naquele abraço já tinha valido a pena a surpresa toda, mas ainda faltava a segunda parte.
Resolvi dormir em Porto Alegre aquele dia e ir para Encantado no sábado de manhã bem cedinho. Sábado de noite era formatura da Bruna e a Laura, que se formava na próxima sexta, estaria lá também, junto com a turma toda de gordinhas.
Sábado de manhã, pegamos o ônibus para Encantado e o meu coração voltou a beirar um ataque. Chegamos na rodoviária morrendo de medo de alguém nos ver. Encantado é um ovo. Pegamos um táxi e pedimos para parar na frente da casa do vizinho. Batemos na porta da casa dos meus pais, ninguém atendeu. De repente, o meu pai aparece do lado da casa. Ele nos viu, apertou os olhos, colocou as mãos na cintura e disse: que isssssssoooo?? Igualzinho a minha irmã.
A minha mãe e o meu irmão não estavam em casa. Então, eu me escondi na casa da vizinha e esperei. Esperei. Pobre coração, não aguentava mais esperar. Finalmente, eles chegaram. Fui lá, bati na porta e o meu irmão abriu. Ele ficou parado de boca aberta me olhando. Nesse meio tempo, a minha mãe veio ver quem era. Assim que ela me viu, ela fez uma cara de pavor e se virou de costa. Ela chorava e perguntava para o meu pai o que estava acontecendo. Ele, que já tinha superado o susto, se curvava de tanto rir.
Mãe, sou eu, me olha, eu dizia. Até que ela me olhou e inciou um dos diálogos mais sem sentido que eu já participei na vida:
- O que aconteceu?
- Nada mãe, tá tudo bem.
- O que tu ta fazendo aqui?
- Vim te visitar, mãe.
- Como é que tu veio?
- Vim te visitar, mãe.
- Como é que tu veio?
- De avião.
- E tu já vai embora amanhã?
- Não mãe, vou ficar o mês inteiro aqui contigo.
Aí, ela começou a voltar a si. Era verdade, não era sonho. O choro virou riso e eu fui devidamente afofada, beijada, esmagada. Eu estava em casa, mas aquele dia tinha recém começado. Depois de conversar bastante, abrir presentes e tudo mais, acabei pegando no sono no sofá. O cansaço me venceu.
A formatura era às dez da noite, me arrumei do jeito que deu e fui. Afinal de contas, eu só queria estar lá e poder dividir com elas essa conquista. Cheguei antes da formanda e causei uma tensão no salão. Todo mundo levou um susto quando me viu. Eu realmente não estava nos meus melhores dias de beleza.
A Laura, formanda da semana seguinte, foi a primeira a me ver. Eu tentei me esconder um pouquinho, mas não teve jeito. Foi muito legal ser tão bem recebida. Sentei numa mesa e ficamos todos na expectativa da chegada da Bruna.
Quando ela chegou, todos na mesa levantaram e fizeram fila para o abraço. Eu me escondi atrás do namorados da Jô e da Laura. O Lucas, achou que eu estava atrás dele, abraçou ela e disse "surpresa", mas atrás dele estava o Lipe e a Bruna ficou pensando "que surpresa é essa, o Lipe?". Só depois de receber os parabéns do Lipe que ela me viu! Ela engasgou, segurou o choro e disse: Caldas, meu melhor presente de formatura. Meu rio de lágrimas já tinha secado. Rimos, nos abraçamos de novo e curtimos uma festa e tanto.
Eu sempre digo que tive muita sorte na vida, com a minha família e os meus poucos e bons amigos. Já se passaram dez anos, cada uma numa cidade, numa profissão, entre um relacionamento e outro. Nesses dez anos de amizade, viajamos, fizemos novos amigos, terminamos faculdade, trocamos de emprego, até brigamos um pouquinho, mas o carinho umas pelas outras não muda nunca. Uma virou médica, outra biomédica, tem uma arquiteta, uma publicitária e agora uma advogada. E tem eu, com um orgulho danado de todas elas.
Queridos leitores, é com muito prazer que lhes apresento as minhas bridesmaids. Junto com a minha irmã, é claro, que será a minha dama de honra. Me diz se elas não são demais e que não vale a pena atravessar o continente por momentos como esse? Não vejo a hora de dividir mais alegrias com vocês. Mentira, não vejo a hora de ver vocês todas vestidinhas de amarelo, parecendo um omelete de piriguetes! :P